Sonegação. Carteiradas. "Gato" de televisão. O famoso "jeitinho brasileiro" costuma ser
associado a capacidade criativa da nossa sociedade de solucionar problemas do cotidiano, que
pode ser saudável. Porém, muitas vezes, essa criatividade está associada a métodos ilícitos, tais
como a corrupção, que por sua definição, busca obter vantagem indevida a despeito do bem
comum. Faz parte da hipocrisia brasileira associar a corrupção aos políticos, esquecendo de suas
próprias condutas. No entanto, seja por ação ou omissão, o ato de ser corrupto não pode mais
receber o eufemismo de "jeitinho", pois é um problema que parte da maioria dos brasileiros, e se
reflete em todos os âmbitos da sociedade.
É possível observar uma grande passividade dos brasileiros com relação a corrupção,
muitas vezes pelos próprios valores educacionais em nossa cultura. O sociólogo Alberto Carlos
Almeida afirmou que essa tolerância e a aceitação do "jeitinho" parte muitas vezes, do
distanciamento que a população tem da leitura e estudos políticos. A baixa escolaridade muitas
vezes leva o indivíduo a reproduzir discursos anti-democráticos como o apoio a lei de talião, e
inclusive a censura, e fazer uso da famosa "Lei de Gérson" em seu dia a dia, mesmo que sem
perceber. Isso evidencia o caráter individualista da sociedade contemporânea, além de contribuir
para a tolerância de tais atos na esfera pública.
A corrupção é um mal endêmico no Brasil, mas isso não se restringe as Câmaras. De
acordo com pesquisas da UFMG, 1 em cada 4 brasileiros afirma que pequenos atos infracionais,
como furar fila e sonegar impostos não se enquadram como corrupção. Muitas vezes, os mesmos
cidadãos consideram somente os políticos como culpados desse mal que aflige o país, afinal, eles
detêm o poder. No entanto, essa parcela da população parece ignorar seu próprio papel na
construção de uma sociedade corrupta, afinal, o artigo 1º da Constituição afirma: "Todo poder
emana do povo, que o exerce através de representantes.". Uma República representativa é o
reflexo da sociedade e de seus interesses. É natural que indivíduos com hábitos naturalizados de
corrupção, elejam políticos corruptos.
Apesar de o "jogo de cintura" brasileiro representar características que podem ser
benéficas, ele deve ser analisado de forma crítica, associando-o a corrupção. O processo para a
construção de uma sociedade menos corrupta é lento e deve ser feito a partir da reeducação dos
indivíduos. Uma conscientização deve partir da mídia em seu papel formador de valores,
desconstruindo a ideia de que pequenos atos ilícitos são banais, e estimulando a denúncia a
corrupção através de programas informativos. O indivíduo e a família devem, por si só, policiar
seus atos e desenvolver sua própria empatia, para que assim, possamos viver em uma sociedade
onde o "jeitinho" seja apenas um elogio.
Excelente texto! Eu acrescentaria uma linha ou duas sobre O livro "Raízes do Brasil" do escritor, Sergio Buarque, que traz à tona essa faceta do brasileiro cordial e sua forma de resolver os problemas que o cerca de forma individualista e irracional, digo, utilizando dos sentimentos pessoais para decidir o que é certo ou errado para ele. Dessa forma, esquecendo que vive, acima de tudo, em uma governo que preza pela equidade e garantia dos direitos individuais.
ResponderExcluirAbraço ! = )
Ótima dica ;)
ExcluirObrigado por comentar ^^