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A arte no picadeiro

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 No último domingo, dia 29.05.2016, eu tive a oportunidade de conhecer os bastidores do maior espetáculo da arte circense que existe no mundo. Diferentemente de todas os eventos que acontecem envolvendo esse circo, parece que eu fui escolhido para assistir tudo dos bastidores. No entanto, fiquei curioso com o fato de que algumas pessoas que me acompanhavam, com o mesmo propósito que eu, disseram que seguiram o protocolo da empresa e chegaram ali através da ação do acaso.

 Acostume-se, meu caro leitor, esse nome acaso será muitas vezes aqui citado, e não terei preocupação em colocar algum sinônimo, pois acredito que não haja sinônimo que traga o exato e profundo significado que essa palavra carrega: acaso. De modo que essa expressão será demasiada usada pelo fato de que todo a arte que envolve a apresentação e quem a vê é escolhida por ela. 

 No entanto, mesmo antes de chegar aos bastidores, uma grande dúvida já me batia a porta, e logo tentei perguntar para o nosso guia, que tinha o apelido de Açis:

 Você sabe informar o motivo de que a entrada é gratuita? Como vocês arrecadam? Quem vocês decidem quem entram ou não?
 Olhe quanta coisa bonita que temos aqui, você realmente quer perder tempo com essas perguntas estranhas? Você sabe que nunca mais voltará aqui, não é?
 Sim! Insisti. É por estar aqui apenas uma vez que quero saber essas informações.
 Pois bem, Martelo. Tudo aqui é gratuito pois tudo que fazemos aqui é simplesmente ordenado ao acaso, a escolha do figurinos e figurantes, a entrada das pessoas...
— Mas, oras como? O que acontece com os outros?
— Simplesmente rejeitados, perderam a oportunidade para sempre de entrarem no picadeiro. A vida é assim, disse ele.

 Aquelas palavras me fizeram refletir por um bom tempo. Ele nos levava a todos os recintos e eu o acompanhava apenas em passos, minha cabeça estava longe: "Tudo gratuito, platéia e figurantes aleatórios, como pode isso ser o melhor circo do mundo?"

 Mas Açis, como quem lia meus pensamentos, me disse: Foi por isso que escolhemos você, você pensa. Assim, te deixarei aqui com a nossa apresentação principal, enquanto continuarei a mostrar o que existe por detrás dos holofotes para os outros.

— Olhe, Palhaço Óbvio, trouxe alguém para a sua companhia: Martelo, um de nossos escolhidos para conhecer o picadeiro, mas esse daí parece que está com defeito, não está interessado em ver nossos camarins e a mágica que acontece por nos camarins. 

 O Palhaço Óbvio parecia desinteressado no que o guia falava, ele estava muito ocupado revirando e rasgando alguns papéis. Desse modo, fazendo jus ao meu nome, logo perguntei:

— O que fazes? Por que estás tão concentrado? 

 Sem respostas. Assim, decidi pegar um dos pedaços de papel, já rasgado, e li uma ótima anedota: Era engraçada, subjetiva, crítica e questionadora. 

 Por que? parece que todos ali liam meu pensamento...

— É, viu? Te fiz pensar, não posso apresentar isso   disse ele me entregando outro papel, mas com certo nojo  Aah, não gosto que me chamem de óbvio, meu nome é Cogito.
— Desculpe-me, Cogito, mas permita-me perguntar o motivo de que essa apresentação não pode ser apresentada?
— Ah, caro Martelo, esse é seu nome mesmo? Arte! Nosso circo não pode fazer apresentações críticas ou não-óbvias, afinal, com todo esse povo entrando ao acaso, se fizermos qualquer alteração que dificulte o entendimento ou que o façam pensar é um problema: Eles não entenderão, farão críticas e deixaremos de ser o melhor circo. 

Arte moderna! Exclamou ele.

 Falando isso, ele pensou "Ah, arte, você virou a puta do senso comum". Mas como era uma frase pesada, ele decidiu não me falar.    Como eu a vi? Bem, ele deixou escapar pela cartola, esqueceu que a cabeça dele tinha um grande oco na parte de cima, coisa de palhaço.

— Não, meu nome não é Martelo, meu nome é Sáti...

 Me interrompe, o nosso guia Açis, falando que a apresentação já deve começar e que eu devo ir para a platéia. Não tive escolhas.

Quanta infelicidade! Me sentei no meio de toda aquela multidão que ria e pensavam nos melhores desejos, ou seja, não pensavam. Digo isso pois, se pensassem elas estariam triste, como estou agora.

 Tudo é uma farsa, gritava eu em pensamento. Digo, toda a apresentação realmente parecia muito linda, mas vazia de significado, de sequência, de ritmo, o entretenimento apenas... entretinha. Será que eu realmente deveria gritar para todos ouvirem? Mesmo se eu tentasse, não daria certo, eu seria o criticado e taxado de errado. Taxado! 

Nesse momento o palhaço cogito entra em cena, transvestido de óbvio, alegrando toda a platéia, incendiando o picadeiro, muita festa, barulho e alegria, quantos adjetivos supérfluos e inúteis. O palhaço? Feliz, como todos viam, contando suas anedotas e realizando as suas travessuras. Ah, arte, como és tão bela!

Nesse momento, pensei eu: todos vestem uma máscara, um para encobrir a verdade e outros para esconder a ignorância, mas esses últimos não parecem saber que assim o fazem. O show acabou... fui eu embora, sorrindo é claro, sabia que nunca mais voltaria ali, espetáculo que só pode ser assistido uma vez na vida. Vida única e infeliz. 

 Vida, saí do circo, conheci a arte e continuei no picadeiro. 

-Jonatas Carlos

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