Mãe, você é poesia
Minha fiel companhia
Desde sempre
Desde o ventre.
Você me ensinou quase tudo
Inclusive a sorrir
E agora que cresci
Consigo encarar o mundo
Mas se for preciso
Eu encaro com meu
Melhor sorriso
Que é igualzinho ao seu.
Mãe, você é pintura
A mais bonita e colorida
De Deus, escultura
Cuidadosamente esculpida
Você revela a perfeição do criador
Que te criou com tanto amor.
Você escolheu me dar à luz
E nenhuma palavra traduz
O tamanho de minha gratidão.
Eu não te escolhi
Eu não tive outra opção
Mas se houvesse tido
Eu ainda teria escolhido
Segurar a tua mão.
--
A loucura é vã
Mas até a mais sã
Dentre as mentes, também
Do que te vale
Um bocado
A mais de juízo
Se até isso
Um dia lhe será tirado?
"Até mesmo a própria vida será"
Exaustivamente repetem
Dentro desses vãos
Todos se perdem.
--
Manhã de domingo
A vida definhava
Na calçada
Ninguém olhava
Mas eu vi
Ali
Sob um céu claro
A vista ficando escura
Sob raios ralos
E com brandura
Me apeguei à ingenuidade
Pensei: não é a morte
Na verdade
É apenas um eterno banho de sol.
--
Na sala de espera
há gentes e gentes.
Uma senhora concentrada
tira discretamente
pelinhos de sua sobrancelha;
outra olha no canto oposto,
a senhora concentrada
tirar pelinhos
da sobrancelha;
outra senhora
(Salas de espera são cheias de senhoras,
talvez viraram senhoras de tanto esperar)
de blusa rosa conversa com outra
e a olha por cima dos óculos,
mas levantou-se, pois sua vez havia chegado;
ah, sim... Finalmente!
Agora, concentro o olhar
e observo que as pessoas da sala
já não são as mesmas;
somente eu,
a mesma,
a mesminha;
escrevendo ninharias,
parada
no tempo perdido
que se perdeu por correr demais
(Perdi a hora do meu poema
De versos brancos).
--
Versos brancos sobre o escarlate da dor
Corte na carne crua
A dor exposta
Em carne viva.
A ferida
A angústia escarlate
Não permanece aberta
Para sempre.
A dor é ridiculamente
Boba
Irrelevante
Coisa pouca.
O que importa
Meu caro
É a convalescença
O galardão.
A cicatriz
É marca registrada
Do sobrevivente
É honra ao mérito.
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