Aquele meu amigo
Entre uma das maiores características desse que vos fala, está o pouco falar. Por isso, alguns dizem que sou antissocial e orgulhoso. Bem, tratando o lado da ética onde eu sou definido pelo meu resultado, isso pode ser verdade. Contudo, eu que devo me conhecer um pouco mais que os outros, sei que tudo é uma questão introvertimento e timidez, mas acredito que sou um bom observador. Faço essa introdução não para buscar me apresentar ou querer sua amizade, mas inicio assim para falar que tenho poucos amigos, sendo um deles o assunto dessa minha postagem.
Nesse tempo especial onde as nossas amizades e relacionamentos são líquidas e superficiais, busquei analisar o que me prendia a esse meu amigo que dá medo em alguns, ódio em outros, mas que é um grande amigo meu. Assim, como uma pessoa sistemática que sou, busquei analisar os meios que me fazem estar intimamente ligado com esse meu companheiro.
Mas antes de começar, você já parou para pensar que coisa estranha é essa, pensar? Engraçado, nós somos seres pensantes, naturalmente nós somos superiores em relação a todos os animais, essa característica é uma. Digo isso pois em alguns momentos me pego pensando: "Imagine se eu fosse um pássaro. Bem, eu voaria, seguiria meus instintos e morreria." A grande verdade é que algumas humanos pensam isso da própria espécie, mas só o fato deles pensarem nisso já é uma grande diferenciação. Assim, sou diferente de todos os outros animais e diferente de todos os animais da minha espécie pela simples capacidade de pensar. Dessa forma, posso, de alguma forma, ativar milhares de sinapses nervosas, uma série de reações química, pensar e chamar alguém de... amigo. Isso é tão simples e ao mesmo tempo tão incrível! Essa característica decerto nos diferencia e não podemos nos comparar com nada, nesse aspecto.
Diante disso, uma outra questão que me vem a cabeça é: mas que bulufas me fizeram chegar assim? Digo, em algum momento do nosso universo e do nosso tempo, houve um começo. O absoluto nada e o zero segundos do cronômetro do nosso finito mundo. E agora, nós, criaturas inúteis, pequenas, preguiçosas e pensantes, estamos aqui agora tentando entender como chegar aqui. Ei! Calma. Percebeu como demos um salto imenso? Nós pulamos incríveis ~13,5 bilhões de anos do nada até eu, você e meu amigo. Consegue imaginar como isso foi incrível? Bem, tínhamos uma singularidade, um ponto adimensional com uma super densidade que explodiu, organizou-se e dentre milhares e milhões de variações, mutações e especiações nós estamos aqui, tudo isso a ciência vem cada vez mais explicando em detalhes como tudo aconteceu. É, caro amigo, agora estamos aqui. Somos não só seres que pensam como nossa trajetória já é muito longa, 13 bilhões de anos!
Se você que me lê e não é meu amigo já pode achar que estou me precipitando ao falar isso, mas lá vem mais um... calma! Digo isso pois algumas pessoas dizem que o universo só existe pelo fato de estarmos aqui. Simples, por sermos criaturas racionais buscamos e sermos seres vivos, tentamos entender o que nos cerca e acabamos por nos deparar com o caminho que nos possibilitou a vida. Mais uma vez eu não sei como reagir quando alguém fala disso. Melhor, sei! E sei que é muito fácil falar isso depois de ter percorrido o caminho e chegado aonde está, na vida. Foram 13 bilhões de anos, uma série de especiações e um caminho probabilístico incrível. E esse último, como bom apreciador da matemática e das ciências naturais, é o que me chama incrível atenção. Por exemplo, lembra do que eu falei no parágrafo passado? Saímos do nada e chegamos aqui, esse caminho que em simples palavras é apenas separado por uma simples letra, andam juntos na realidade por uma questão infinitesimalmente pequena, com o significado da palavra. Como exemplo, já se foi calculado a partir das proteínas que necessitamos, que uma simples vida surgir por acaso é da ordem de 10^40.000 para 1. Essa é apenas uma das infinitesimais probabilidades que são calculadas para a nossa existência, acredita? Isso fica mais bizarro quando sabemos que os filos mais conhecidos que temos hoje surgiram apenas há 530 milhões de anos. Bem, caro amigo, isso me fez pensar em ti, pois diante de tantas possibilidades de não existirmos, existimos, pensamos, sabemos que existimos e nos encontramos.
Ficaria ainda mais bizarro se uma das principais leis da ciência afirmassem que essa organização é um pouco mais complicada do que parece. Isso porque uma das aplicações da 2ª lei da termodinâmica que é expressa em "A quantidade de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente tende a incrementar-se com o tempo, até alcançar um valor máximo" é que tudo no universo tende ao caos e à desorganização. Assim, fica ainda mais inacreditável, caro amigo, que o acaso reservou esse universo, esse tempo, essa probabilidade e essa tendência à desorganização apenas para nós. Tudo foi organizado e milimetricamente encaixado para que essa grande máquina funcionasse e eu te encontrasse.
Mas que ciência! Quer saber agora? A própria ciência carrega consigo uma máxima de Lavoisier e afirma que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Bem, temos um pequeno problema. Se nós formos puxando, esticando e investigando as coisas que nos cercam, ela chegará em um início. Tudo. Veja as línguas, veja a matéria, veja o tempo, veja os costumes, veja um princípio moral, tudo. A própria ciência afirmar existir, no mínimo, um ponto de singularidade, de onde veio isso? Bem, a ciência ainda não sabe explicar, mas sabemos que todas as coisas tem um começo, sim, tudo foi criado, não foi perdido e ainda se transforma. Assim, amigo, diante dessa criação eu me encontro aqui contigo...
E que criação! Já te falei sobre a complexidade que é o resultado desse mundo em que vivemos, mesmo sendo ele uma parte extremamente pequeninha no universo, mas estamos aqui. Mas no meio dessa complexidade, você já parou para ver a beleza que ela nos traz? Olhe bem, mesmo ao meio de tanta desgraça que nós fazemos, o mundo ainda é belo, o nascer do sol é belo, as ondas do mar são belas, até o capim pode ser belo. São detalhes, muitos detalhes, e a união desses detalhes nos dá uma imensidão de beleza. Amigo, se você no meio dessa vida corrida ainda não parou para olhar para a beleza do mundo, digo, olhe! Esse deve ser o meu maior presente para você, ou não, pois acredito que em algum momento você já parou para olhar. A minha dica é olhar os céus e as estrelas, a sensação de olhar para algo imenso, longínquo, que nem está mais aí, que é apenas a sua luz que veio viajando por milhares de quilômetros e fazer esse espetáculo me fascina. Todo esse nada virou um algo, entre uma complexidade, organizou-se e cá estou te escrevendo, caro amigo, nascer é vencer o maior desafio da vida.
Neste curto espaço de uma linha entre o ponto final e o "n" que iniciou esta frase me veio um período de pensamento que gostaria de compartilhar com você. Estava aqui pensando comigo que talvez você não fosse um amigo de verdade, digo, você é muito mandão. Quando eu estava aqui escrevendo suas boas qualidades vi que você estava sempre a me ensinar algo, dizendo que isso é errado, aquilo é certo e etc. De princípio, fiquei meio receoso contigo e mais, até estava ficando com raiva de você. O que mudou? Bem, o que mudou é que eu lembrei que nós, humanos, precisamos sempre de uma primeira referência. Não podemos dizer se algo está subindo ou descendo, acelerando ou desacelerando, fazendo o bem ou o mal sem uma referência, a física é que melhor consegue explicar isso. Então, percebi que isso que fiz, de princípio, parecia mais pirraça do que qualquer coisa, afinal, é óbvio que eu necessitava de uma base moral objetiva, pois senão, esse mundo que já tende à desordem já teria explodido. Então ao invés de ficar com raiva de ti, o que tenho a dizer é muito obrigado.
Sabe, se tudo fosse perfeito essas diferenciações de base moral provavelmente não existiriam, pois nem seriam necessária. Contudo, caro colega, nós mesmo vimos e ainda vemos como fazemos o mal e como a própria ciência aponta para que o universo tende ao mal. Assim, fica óbvio que pela mesma ideia de puxar e tentar entender o assunto desde o começo, faz-se necessário esse ponto fixo, seja lá qual for, tem que existir apenas um. Nesse meu caso, esse meu ponto fixo é você, seu ditador rs.
Mas ainda temos um grande problema para enfrentar. Estávamos ainda agora falando sobre a criação das coisas, o ponto zero e estávamos nestes últimos parágrafos falando sobre uma base de certo ou errado para as coisas. Isso é intuitivo, se algo começou, ela tem que ter um começo, se algo é bom ou ruim, temos que ter a base para isso. Mais uma vez digo... calma! Como assim um começo material para o tempo e espaço, digo, como algo pode ter sido criado no espaço e no tempo zero? Ser criado é ser feitura de algo, mas... que algo? Se o tempo é zero, decerto para que algo tenha surgido do zero, esse algo tem que estar fora do espaço-tempo. Nossa! Obrigado, amigo.
Bem, no início de tudo que conhecemos (o espaço tridimensional e tempo), você veio de "fora" que nós simplesmente não conhecemos, por viver nesse espaço já dito, e simplesmente nos criou. Mas calma, tinha um nada! Você foi lá como criatura perfeita e criou esse universo incrível, complexo e belo. Mais do que isso, você nos criou e nessa complexidade e especiações nos deu a oportunidade de pensar, olhar e entender essa beleza, sou racional e só assim consigo pensar nisso e em ti. Você que desde o começo já estava lá, como o ser perfeito a ser imitado, era a nossa imagem de bom a ser seguida, mas falhamos. Mesmo assim, tu ainda estás aí nos mostramos o que devemos fazer. Diante disso, o mínimo que posso fazer é ser seu. Obrigado, Deus.
-Jonatas Carlos
O mundo parece reconhecer que houve um começo, que para haver esse começo, algo de fora deve ter criado. Que temos um conceito objetivo de certo e errado, assim, parece que algo deve ser uma base objetiva para termos tais conceitos. Que algo nos fez racional e só assim conseguimos pensar. Que através disso, enxergamos que algo susteve o universo que tende ao caos. Que esse algo deve ter, por probabilidade, especiado e controlado as forças naturais para que o universo e toda a sua complexidade deve ter existido. Mais do que isso, vemos que para tudo que destrinchamos, encontramos um algo como sua base. Bem, não sei você, mas esse algo eu chamo de Deus.
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