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Os sonhos de todo bom homem

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Os sonhos de todo bom homem

  Tive ontem a oportunidade de ter uma bela prosa com um antigo amigo meu, ele, reflexo da sociedade, muito já viveu e sempre me tem muito a falar. Nesse último encontro não foi diferente, ele não parou a boca quieta um só minuto. Toda história que ele contava só era interrompida pela próxima. Atributo que só faz de alguém bom quando é acompanhada de ótimas narrativas, que é o caso dele. Assim, deixo aqui escrito a história que mais chamou a minha atenção.

  Antes, deixe-me situá-lo, caro leitor. O meu amigo é, atualmente, um empregado da construção civil e tem por trabalho viajar regradamente pelo mundo em busca de atualidades para serem aplicadas às obras da empresa em que ele trabalha em João Pessoa. No entanto, mesmo tendo uma vida de viagens, o seu maior sonho era viajar livremente durante as férias, pois ele ganhava pouco e tudo que ele ganhava, gastava para viver. O seu segundo maior sonho é, assim como o de todos grandes e esperançosos miseráveis, a aposentadoria. Relato aqui estas informações pois acredito que sejam úteis para o entendimento da história.

  Assim, após um esforço imenso para guardar o dinheiro das sonhadas férias, relatou ele que...

 estando, pois, em sua viagem de férias num cruzeiro que buscava percorrer o litoral brasileiro com paradas e visitas aos grandes pontos turísticos das cidades portuárias, o grande navio começou a passar por um mar agitado e uma tremenda tempestade. Todos do navio, medrosos, seguiram as ordens de irem para os seus quartos e esperarem a tempestade passar. Assim feito, ele, sozinho no grande e acolchoado quarto, começou a pensar coisas aleatórias. E pela maior aleatoriedade que o acaso poderia lhe dar, aquela situação lhe fez pensar nos antigos escravos dentro dos navios negreiros.

   Dessa forma, comparando-se ele com um negro escravo, tentou colocar uma etiqueta em si mesmo. Qual seria o seu preço? O preço do homem, é, decerto, calculado por suas virtudes e pelo que ele sabe fazer para os outros. Afinal, o inútil é aquele que tem valor em si mesmo. Dessa forma, ele começou a ver que não tinha bom porte físico para trabalhar como escravo e deveria ser pouco valioso... 

   Contudo, encucado com a ideia, ainda tentou colocar um preço em si mesmo com base em suas qualidades intelectuais. Viu ele: bem, falo português e inglês, tenho experiência com minha empresa, sou bom em cálculo, sou analítico e tentou elencar o máximo de virtudes que conseguiu. Não as exponho aqui pelo fato de eu as ter esquecido. No entanto, percebeu ele que seria um grande homem, assim, deveria ser precioso. Ele, dessa forma, ficou feliz por saber que seria um escravo valioso e poderia até ter algumas regalias, além de abrigo e comida. O preço que ele colocou? Bem, ele não me disse, mas te digo aqui, bom leitor. Seu preço não (é) nada valioso, pois esqueceu-se ele que já é vendido por 3 salários mínimos e 8 horas de trabalho diário durante 35 anos. 

  Mas se você lembra, caro leitor, o segundo maior sonho dele era a aposentadoria. Dizia ele que quando se aposentasse iria extorquir do Estado e da previdência social tudo que lhe era por direito, assim, ele enfim aproveitaria a vida. Mas, enquanto ele fazia as contas para saber quanto tempo faltava para a sua aposentadoria, devido ao seu já cansaço mental por conta de tanto trabalho e o aumento do balanço do navio, ele nem conseguiu finalizar. Após uma pausa, ele me disse que faltavam apenas 14 anos de trabalho. Eu, em tom de brincadeira de bons amigos, disse que faltavam 14 anos de trabalho, outra cirurgia de coração e mais outras 2 da velha coluna do coitado que vivia sentado. Ele entendeu e rimos. Disse eu também que existia uma antiga lei que já garantia os seus direitos para uma boa aposentadoria, a lei Sararaiva-Cotegipe, ou dos sexagenários, como é mais conhecida. Assim, ele abriu um belo sorriso de felicidade com a esperança do descanso, vida sem trabalho e o gostinho de vitória de, por fim, tirar dinheiro do governo.

 A tempestade passou, o navio atracou na próxima cidade que estava por destino, e o meu  amigo levou consigo suas ideias e o belo sorriso pela expectativa de estar realizando o seu sonho de vida.


-Jonatas Carlos

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