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Cerol

Cerol

Retinas, 

Algumas vezes são as situações mais banais do dia-a-dia que nos levam a conhecer o mais profundo das ações que nos rodeiam. Digo-te isto pelo fato da história que agora inicio veio exatamente de um desses momentos do cotidiano, o que não digo é que ela seja profunda, aí cabe à tua alma...

Desculpe o início tradicional, mas realmente não sei como escrever, lá vai: Certo dia de uma noite quente, João Filho, 12, mais conhecido como Demolidor, estava inquieto em sua cama tentando dormir e a partir de sua inquietação, teve a oportunidade de notar um detalhe estranho que nunca tinha visto anteriormente: A lâmpada de seu quarto mesmo apagada ainda estava a brilhar. O brilho não era intenso, mas percebia-se que alguns fótons de luz verde ainda saiam do vidro. 

Neste dia Demolidor estava só em casa, pois seus pais tinham ido para uma pequena viagem. Ele não foi pois preferia ficar na sua região empinando sua pipa. Neste dia, João tinha ficado a tarde inteira na rua com suas linhas e correndo atrás de outras pipas pela ruas do seu bairro. Talvez esse seja o motivo de sua inquietação na cama, pois além de estar quente, ele estava com sua pele levemente queimada do sol. Pense, leitor, a soma entre a inquietação de um dia quente, a imaginação e curiosidade de um adolescente e a solidão em frente a um fato curioso em sua casa... Lembro-me bem que em minha infância essa minha inquietação fez-me ver centenas de monstros em galhos aleatórios.

Com este somatório em mente, o menino tentou consiliar o mistério com algo da realidade, mas o medo o tomou totalmente. Logo, com muito medo, ele levantou-se e viu que algumas das lâmpadas fluorescentes da sua casa também estavam a brilhar. Neste momento o pavor tomou conta de si e tomou a atitude mais inteligente para alguém de sua idade: correu para debaixo do lençol e, apesar do calor, o medo esfriou mais alto e o levou ao sono.

No dia seguinte, logo após acordar, os seus pais chegaram em casa acompanhados de seu avó paterno e o garoto correu para contar o ocorrido para sua mãe. 

— Mãe, mãe, tem algo de estranho nas lâmpadas aqui de casa!!!
— O que foi, meu filho? Para com essas doidices, sei que você só quer pegá-las para fazer cerol para suas pipas.
— Não, mãe, me escuta...
— Ó, menino sai pra lá que estou estressada
— Mas as lâmpadas ainda estão brilhando depois que a gente apaga, mãe...
— Olha, para com essas doidices ou vou ter bater, vai pra rua brincar, vai.
— Mãe, é sério... E a Dona Laura, como era conhecida, ignorou o menino, mas o seu avô estava a prestar atenção em tudo que o garoto falava e logo o chamou:

— Ei, Jão, cadê a benção do vô?
— Bença, vô?
— Deus te abençoe, meu filho, venha cá que eu quero te contar um negócio... Eu ouvi você falando essa história da lâmpada pra sua mãe e...
— Ah, vô, deixa pra lá, deve ser coisa da minha cabeça.
— Jão, venha cá! Estou lhe falando... eu sei o porquê da sua lâmpada estar brilhando no escuro, é verdade... isso é coisa de família.
— Você sabe, vô? E o que é? Ontem eu quase não morri de tanto medo com essas luzes.
— É, meu filho, isso é coisa antiga: Certo dia o meu avô, que é o seu tataravô, teve uma briga com um xamã e ele amaldiçoou nossa família e...
— O menino, inquieto cobra uma rápida explicação. Vô, fala logo que eu quero ir empinar pipa.
— Deixa de pressa, menino, a maldição que o xamã colocou foi de prender a alma das pessoas de nossa família que já morreram dentro das lâmpadas, e o brilho é elas se mexendo dentro do vidro. Meu avô também foi amaldiçoado e depois de 3 meses doente morreu, depois disso as lâmpadas começaram a brilhar, era a alma dele lá dentro tentando sair. O bruxo disse que ele consegue nos ver mas não consegue sair nem falar com a gente, e fica sempre agonizando lá dentro.
— Deixa de falar besteira pro meu filho, disse dona Laura.

O menino ficou um tempo pensativo, sobre a história que o seu avô tinha contado sobre a alma de seus parentes, mas logo saiu correndo para dentro do seu quarto. Lá, ele subiu numa cadeira e tirou a lâmpada, levando-a para fora. E pensou:

— Se eu não me importo com os vivos, quem dera com os mortos. Quebrou a lâmpada e foi preparar o cerol para passar na sua linha.

A mesma linha que o Demolidor usou o cerol, foi a que o matou. Na mesma tarde, após passar a solução do cerol na linha, ele deixou a linha esticada entre dois postes para que a cola com o vidro secasse e a linha estivesse cortante. Nesse meio tempo, ele decidiu jogar bola com alguns vizinhos que jogavam ao lado de onde ele tinha deixado a linha. Contudo, num momento em que a bola foi para a calçada, João foi correr para pegar e acabou passando o seu pescoço pelo fio que deixara secando. Por jar estar seco, o fio cortou o seu pescoço e atingiu a sua jugular. Joãozinho morreu lentamento agonizando, respirando o próprio sangue. Em suas últimas forças ele tentou forçar o corte em seu pescoço para parar o sangramento, mas a agonia logo o tomou e ele se debateu e sufocou-se até o último sangrento suspiro.

Seu avô não o contou, mas aquele que destruir a lâmpada será perseguido pela alma que nela estava contido até morrer em acidente ou ficar tão perturbado e cometer suicídio cortando os pulsos.

As almas continuam presas nas lâmpadas, mas outras estão soltas procurando as suas presas. 

-Jonatas Carlos




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