Somavav
Digo isso pois o primeiro sentimento que tive quando vi tal animal não foi medo ou qualquer outro semelhante, porquanto o que eu realmente senti foi pena. Esse animal que chamei de Somavav cambaleava como um bêbado em seus últimos passos em pé.
Mas antes de partir para seu modo de agir, permita-me descrever essa horrenda criatura em fisionomia: O rosto parecia de um simples cavalo, sendo este com uma expressão de angústia (imagino pelo desespero de estar preso a tais corpos), já os corpos se organizavam entre os 180º da parte detrás da cabeça, todos eles pareciam serem partes de quadrúpedes terrestres, sendo que completamente cobertos por uma espécia de escamas córneas, como a de um jacaré, sendo com maior número de protuberâncias, carregando consigo uma repugnância natural.
Contudo, tenho uma ressalva a fazer: A primeira vez que vi o Somavav foi em alta madrugada, não recordo cá a hora, mas sei que eu já não estava com todas as minhas ligações completas na mente. Assim, mesmo tendo continuamente vendo tal animal em outras madrugadas e em outras raras ocasiões matinais, não posso afirmar que ele não seja um sonho, uma alucinação ou o simples fruto de um início de loucura.
Dessa forma, parecia muito propício a hora para ver tal criatura cambaleando. Era trágico como aquele ser não tinha direção alguma, cada parte de si, digo, cada um de seus corpos queria ir para um lugar diferente, colocando o animal (a única cabeça) em total confusão. Vale lembrar ainda que como todo corpo, eles tinha diferentes necessidades em diferentes momentos, causando ainda mais problemas entre eles. Pense só você ter 6 diferentes seres mandando diferentes informações para dentro de sua cabeça. Nós que temos só um corpo ficamos muitas vezes indecisos, preocupados e ansiosos por não conseguir escolher coisas simples do dia a dia... E quando as coisas não saem como queremos? O mundo muitas vezes parece desabar com qualquer desavença ao nosso querer.
Confesso, assim, que nem consigo imaginar. Era informação demais sendo enviada para aquele pobre ser que estava perdido entre si e dentro de si. Ele deveria ser privado de quaisquer sentimentos, uma vez que cada partezinha do seu corpo queria algo diferente. Poderia ele amar? Odiar outrem? Ser útil em alguma coisa?
Coitado! Sabe o que é pior? Cheguei tarde demais. Lembra-se do que eu disse no começo? Da primeira vez que o vi ele já estava angustiado, o que será que ele já passou até chegar nesse ponto? Será que se eu o tivesse encontrado antes as coisas teriam sido diferentes? Percebe como este encontro colocou-me dentro de várias interrogações, querido blog?
Sim... cheguei tarde demais, a sua última aparição foi num sábado dia 02.07.2016, foi nesse dia que vi aquela cabeça que estava já muito perturbada com todos aqueles corpos se jogar de perto do ponto mais oriental das Américas, a erodida falésia do Cabo branco. O lugar mais próximo do velho mundo e do mar. Tudo que restou agora foi ao Farol os seus restos iluminar.
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