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Cerol

Cerol

Retinas, 

Algumas vezes são as situações mais banais do dia-a-dia que nos levam a conhecer o mais profundo das ações que nos rodeiam. Digo-te isto pelo fato da história que agora inicio veio exatamente de um desses momentos do cotidiano, o que não digo é que ela seja profunda, aí cabe à tua alma...

Desculpe o início tradicional, mas realmente não sei como escrever, lá vai: Certo dia de uma noite quente, João Filho, 12, mais conhecido como Demolidor, estava inquieto em sua cama tentando dormir e a partir de sua inquietação, teve a oportunidade de notar um detalhe estranho que nunca tinha visto anteriormente: A lâmpada de seu quarto mesmo apagada ainda estava a brilhar. O brilho não era intenso, mas percebia-se que alguns fótons de luz verde ainda saiam do vidro. 

Neste dia Demolidor estava só em casa, pois seus pais tinham ido para uma pequena viagem. Ele não foi pois preferia ficar na sua região empinando sua pipa. Neste dia, João tinha ficado a tarde inteira na rua com suas linhas e correndo atrás de outras pipas pela ruas do seu bairro. Talvez esse seja o motivo de sua inquietação na cama, pois além de estar quente, ele estava com sua pele levemente queimada do sol. Pense, leitor, a soma entre a inquietação de um dia quente, a imaginação e curiosidade de um adolescente e a solidão em frente a um fato curioso em sua casa... Lembro-me bem que em minha infância essa minha inquietação fez-me ver centenas de monstros em galhos aleatórios.

Com este somatório em mente, o menino tentou consiliar o mistério com algo da realidade, mas o medo o tomou totalmente. Logo, com muito medo, ele levantou-se e viu que algumas das lâmpadas fluorescentes da sua casa também estavam a brilhar. Neste momento o pavor tomou conta de si e tomou a atitude mais inteligente para alguém de sua idade: correu para debaixo do lençol e, apesar do calor, o medo esfriou mais alto e o levou ao sono.

No dia seguinte, logo após acordar, os seus pais chegaram em casa acompanhados de seu avó paterno e o garoto correu para contar o ocorrido para sua mãe. 

— Mãe, mãe, tem algo de estranho nas lâmpadas aqui de casa!!!
— O que foi, meu filho? Para com essas doidices, sei que você só quer pegá-las para fazer cerol para suas pipas.
— Não, mãe, me escuta...
— Ó, menino sai pra lá que estou estressada
— Mas as lâmpadas ainda estão brilhando depois que a gente apaga, mãe...
— Olha, para com essas doidices ou vou ter bater, vai pra rua brincar, vai.
— Mãe, é sério... E a Dona Laura, como era conhecida, ignorou o menino, mas o seu avô estava a prestar atenção em tudo que o garoto falava e logo o chamou:

— Ei, Jão, cadê a benção do vô?
— Bença, vô?
— Deus te abençoe, meu filho, venha cá que eu quero te contar um negócio... Eu ouvi você falando essa história da lâmpada pra sua mãe e...
— Ah, vô, deixa pra lá, deve ser coisa da minha cabeça.
— Jão, venha cá! Estou lhe falando... eu sei o porquê da sua lâmpada estar brilhando no escuro, é verdade... isso é coisa de família.
— Você sabe, vô? E o que é? Ontem eu quase não morri de tanto medo com essas luzes.
— É, meu filho, isso é coisa antiga: Certo dia o meu avô, que é o seu tataravô, teve uma briga com um xamã e ele amaldiçoou nossa família e...
— O menino, inquieto cobra uma rápida explicação. Vô, fala logo que eu quero ir empinar pipa.
— Deixa de pressa, menino, a maldição que o xamã colocou foi de prender a alma das pessoas de nossa família que já morreram dentro das lâmpadas, e o brilho é elas se mexendo dentro do vidro. Meu avô também foi amaldiçoado e depois de 3 meses doente morreu, depois disso as lâmpadas começaram a brilhar, era a alma dele lá dentro tentando sair. O bruxo disse que ele consegue nos ver mas não consegue sair nem falar com a gente, e fica sempre agonizando lá dentro.
— Deixa de falar besteira pro meu filho, disse dona Laura.

O menino ficou um tempo pensativo, sobre a história que o seu avô tinha contado sobre a alma de seus parentes, mas logo saiu correndo para dentro do seu quarto. Lá, ele subiu numa cadeira e tirou a lâmpada, levando-a para fora. E pensou:

— Se eu não me importo com os vivos, quem dera com os mortos. Quebrou a lâmpada e foi preparar o cerol para passar na sua linha.

A mesma linha que o Demolidor usou o cerol, foi a que o matou. Na mesma tarde, após passar a solução do cerol na linha, ele deixou a linha esticada entre dois postes para que a cola com o vidro secasse e a linha estivesse cortante. Nesse meio tempo, ele decidiu jogar bola com alguns vizinhos que jogavam ao lado de onde ele tinha deixado a linha. Contudo, num momento em que a bola foi para a calçada, João foi correr para pegar e acabou passando o seu pescoço pelo fio que deixara secando. Por jar estar seco, o fio cortou o seu pescoço e atingiu a sua jugular. Joãozinho morreu lentamento agonizando, respirando o próprio sangue. Em suas últimas forças ele tentou forçar o corte em seu pescoço para parar o sangramento, mas a agonia logo o tomou e ele se debateu e sufocou-se até o último sangrento suspiro.

Seu avô não o contou, mas aquele que destruir a lâmpada será perseguido pela alma que nela estava contido até morrer em acidente ou ficar tão perturbado e cometer suicídio cortando os pulsos.

As almas continuam presas nas lâmpadas, mas outras estão soltas procurando as suas presas. 

-Jonatas Carlos




Carta para meu amigo

      Olá, não queria estar nesse momento escrevendo esta carta, pois eu cogitava tal situação e sabia que só estaria a escrever caso houvesse tal acontecimento que pode entrar na categoria de trágico. Como seu velho amigo, eu não queria, mas digo, bem que te avisei!
    Jonatas, você mesmo acredita que por mais estranha ou diferente que uma pessoa seja, sempre haverá alguém como ela no mundo, que a entenderá. Amigo, desculpa, mas se como tu mesmo dizes que cada pessoa é um mundo, a probabilidade de tal fato acontecer é extremamente pequena, especialmente em pessoas como você. Não quero te colocar em uma posição alta ou baixa, já você mesmo odeia tais avaliações, mas você deve perceber que você não é como a maioria das pessoas, você é simplesmente diferente. Aqui não quero inferir problemas ou qualquer coisa do gênero, mas que talvez pelos fatores que fizeram você chegar até o que pensar hoje, você tornou-se assim. Não se nasce diferente, torna-se diferente.
     Eu tinha dito! Ah, que infeliz amigo sou eu que já fala isso pela segunda vez... Mas pense, acredito que você não encontrará alguém que possa te entender e conviver com as suas minúcias e idiotices. Elas não sabem como coisas fora do lugar realmente te perturbam, como o atraso te deixa nervoso, como a má educação te incomoda... Olha só, tanto o silêncio como a fala te incomoda em determinadas ocasiões... minúcias. Coitado! Fosses mexer com uma esfinge que trabalha com o tempo. Pior, uma esfinge que não queria ser vista, revelou-se, revelaste-se-á, e ela usou o tempo. Ela não sabia como a argumentação que você usava que o amor é entrega fazia tanto sentido na sua cabeça? Assim como muitas pessoas, ela simplesmente escutava tal argumentação e via apenas que fazia sentido, mas não como tais coisas se alinham em sua cabeça, caro amigo. Sim, o amor é entrega, e ela não se entregou. Tempo!
     Tempo, amigo. Vou almoçar e já volto a te escrever. Mas agora coloco-te na posição dela para ver como era fácil, o que para mim será um tempo de um almoço e de um diálogo, para você será apenas passar para o próximo parágrafo, como se tal intervalo não existisse.
    Voltei, como te disse, apenas mudasse o parágrafo e logo tem essas novas palavras, viu como é fácil apenas observar a espera do outro? Quando um não quer, dois não brigam. Quando um espera, o outro relaxa. Mas nesse período eu estava a pensar como não consigo expressar bem aquilo que eu queria dizer pelas palavras. 
    Digo, talvez você tenha tomado como ofensivo aquelas minhas últimas palavras sobre você ser diferente, ou talvez eu te avaliei demais dizendo que uma relação com você é impossível. Bem, o que eu queria dizer é você se apega aos mínimos detalhes das coisas que poucos notam e realmente dá importância a essas coisinhas. Não quero que você mude, pois isso é o que você é, mas apenas lhe digo que não fiz por mal. Ah, você sabe! É uma parte do seu cérebro quem te escreve (como poderia se considerar normal?)...
    E também não te culpo. Até eu me apaixonei, meu amigo. Nós nos apaixonamos pela mesma pessoa, e nesse estranho caso, não fazíamos um triângulo amoroso. Mas o amor parece ser coisa complicada, principalmente quando um não ama, que é não dar-se. 
    Pois bem, meu amigo, escrevo-te esta carta pois estava pensando em te falar algumas palavras. Confesso que eu tinha muitas outras coisas a te comunicar, mas essas ideias que vem nos momentos em que paramos para pensar somem tão rápido quanto a escassez desses momentos. Desculpe-me.
 O amor é, antes de tudo, uma emoção que depende da loucura. Ame e enlouqueça. Só amará se enlouquecer. Loucura que é não se importar com o que os outros pensam de ti, voar sem asas, pular sem paraquedas, dar-se sem querer de voltar, dançar sem música, estar a sós no meio da multidão... o amor. Eu a amei, portanto, a amo.

Com vinho, café amargo e carinho, seu amigo Mitgipkvsky Saktikós.

Gup _ Cordel

Agora vou começar
Um cordel mal feito
Não por displicência
Pois dou-me por completo
E antes de me julgar
Deixe-me explicar
Que não sei é fazer direito.

E logo nesses primeiros
Se você esmiuçar
Sem colocar esforço
Vai logo é notar
Que entre essas rimas
Quase todas as palavras
Estão fora do lugar.

Desculpe, caro leitor
Não sei como começar
Assim como também não sei
O seu desenrolar
E o meu vizinho escroto
Ligou seu som maldito
Para me atrapalhar

Ah, querido leitor
Não visse o tempo passar
Apensar o verso mudou
Por não estar a esperar
Mas aqui eu estava aflito
Por nada ter escrito
Até o som deligar.

Agora sem mais delongas
Devo logo começar
Pois agora decidi
Do que eu vim falar
E é duma infeliz saída
Numa chuvosa segunda
com a menina do mar.

Já começou errado
Pois onde eu queria estar
Era no parque arruda
Mas pra me fazer esperar
Ela não quis ir
Sabendo o que iria vir
e tentando de matar...

Nada de drama aqui!
Matar, sim senhor
Pois se não morro doente
Já morro é de amor
Pois até na segunda opção
Ela também disse não
E logo logo cancelou.

No meio de tanto erro
Vejo que também errei
Pois só queria falar:
Aonde ela foi eu irei
Foi assim que "decidimos"
E numa noite de mimos
Nos teus braços fiquei.

Foi na segunda feira
Dia 5 de setembro
Que era de bica e cinema
Findou em dia macabro
Pois de recusa em recusa
Fomos pra praia com chuva
Cenas que bem me lembro:

Antes de vir a primeira
Deixe eu lhe situar
Pois nessa história
Queríamos nos encontrar
Como dois amigos estranhamos
Pois com todos os acanhos
Há é amor no ar.

Assim nessa história
Qualquer olhar conhecido
Que capture nós dois
Não sei nem como explico
É como um holofote
Ou um grito bem forte
No que estava escondido...

E tal ato aconteceu
Mas foi ainda pior
Teve pequeno diálogo
Onde tive que expor
Com pequena explicação
E recebi uma expressão...
"Acuda-me, ó Senhor!".

A segunda cena se deu
No meio da lotação
Foi besta, certeza
Mas se deu com a mão
Da jovem mais bela
Que nem pintada em tela
Mostraria tal perfeição.

Coisa de enamorada
Pois o que mesmo ficou
Foi uma besta dúvida
Que só na ideia morou
De segurar a mão dela
Da tão doce donzela
Mas o trajeto findou.

Linhas medíocres!
Que eu autor inventou
Pois falo-te logo
O que o cérebro notou
Era uma bobagem bela
Como uma cena de novela
Que o verso não passou.

Aviso-te atrasado
Meu querido leitor
Meus versos são pobres
Pois não sou escritor
Mas que pela Marinho
Esqueço-me todinho
Deixo até de ser Dr.

Voltando a história
Enfim chegamos na praia
Mas o acaso reservou
Não uma noite de sandália
E sim para cobertor
Pois do alto Deus gritou
Que todo céu agora caia.

Caia chuva ou fogo
Quereria era me molhar
'Que esse céu desabe
Pois eu não vou ligar'
Se eu ficasse onde estava
Ali até me ensopava
Mas com a menina do mar.

Mas dia de contrariação
É duro como rapadura
E se esfarela todo
E até sua doçura
Vira café sem açúcar
Que vem para amargurar
Toda e qualquer criatura.

Caia chuva ou fogo
Eu queria era ficar
A noite toda abraçado
Com a rainha do esperar
Mas se o tempo foi contra
O que tive foi uma amostra
Grátis pra logo aproveitar.

Ah! Que noite maluca
Pois foi toda ela assim
Um corre corre da chuva
Mas com ela outrossim
Correria o tempo todo
Se fôssemos lado a lado
Juntinhos até o fim.

Não sei se é de cordel
O que quero contar
Mas vai assim mesmo
Pois onde eu queria estar
Ela ali abraçadinho
Com a menina Marinho
Até o mar secar.

Mas então, como seria
Viver naquele barraco
No meio daquela praia?
Fico em qualquer buraco
Se estiveres ao meu lado
Com teu amor bem guardado
Moro em qualquer pedaço,

Pois a minha cabeça
Funciona como uma vitrola
Que onde quer que eu esteja
Toca aqui toda hora
Seja no verso
Ou no reveso
Sempre uma tal de Carola.

Sim, queria mocinha
Estou indo amar-te
E carrego meu coração
Assim sempre vou levar-te
Não importa o que vou fazer
Seja onde eu estiver
Até no meio de marte.

Tenho que voltar a praia...
Pois os beijos que nela dei
Sempre passa no vinil
Acredite, pois os contei
Sobre a pele de veludo
Calculei eles ao todo
E deu: Um eu te amei.

Mas o acaso danado
Logo tudo transformou
Pois não é que ele
Com quase tudo acabou
Já que isso era escondido
Um caso meio encardido
E aos meus pais quase mostrou.

Melhor, decerto viram
Já que ficaram calados
Quando eles passaram
Meio que acanhados
Pior que nós não estavam
Mas as horas já passaram
E eles continuam mudos...

Dia 5.7 de 2016
Dia que cordel virou
Portanto, agora eterno
Mas já bem feliz estou
Pois como num sonho
Foi com a Marinho
Que meu dia findou.


Por Jonatas Carlos

Déficit de visão

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Olá, olho que me lê, desculpe pelo texto que agora estará sendo jogado e a pressa com que venho a jogá-lo, mas preciso escrever esse pequeno detalhe da vida cotidiana antes que eu vá dormir e esqueça.

 O fato aconteceu no ônibus quando eu voltava hoje do meu curso de inglês, o ônibus não estava lotado mas tinha algumas pessoas de pé (inclusive eu), contudo, logo apareceu um lugar para que eu pudesse sentar logo em frente de onde eu estava. Assim, olhei para os lados para ver se tinha algum idoso ou senhoras ao meu lado para que eu cedesse o lugar, e tinha. Moça, você quer sentar?

  A mulher, olho, era um senhora com seus 45 anos que estava de pé em frente ao banco que estava ao lado do banco que eu estava. A resposta dela foi um simples não. Um simples e calmo não. Querido olho, vês como as palavras em muitas vezes conseguem emitir o que realmente queremos falar? Principalmente quando quem está escrevendo-as é um horrendo escritor como eu. Pois o que realmente me chamou atenção - e é o que vim lhe falar aqui - é que a mulher tinha uma deficiência nos olhos...

 Uma deficiência, mas talvez não um defeito. Confesso que de princípio tomei um pequeno susto... susto não, entre um susto e algo que me chamou muito a atenção: Um dos olhos da mulher era arregalado (que palavra feia), ele não era exatamente estufado, mas parecia observar tudo o que se passava ao redor da mulher em 180º, ele era grande. Pior, tal senhora gostava ou tinha por mania o hábito de olhar para todos os cantos, ela estava sempre mudando a mira dos seus olhares, sempre passando por mim (que quase a encarava por uma questão de instinto curioso). Talvez esse fosse o tamanho normal do olho dela, que poderia se dar pelo contraste com o outro olho: Este era cerrado. Desculpe a comparação, mas como quando aqueles atores dos filmes do velho oeste fitavam o inimigo. Ele ainda apresentava os aspectos de grandeza (gigantística grandeza) do outro olho, mas agora cerrado.

 Uma deficiência, mas não um defeito. Um olho era de total atenção e o outro era de total suspeita.

 Tenho que dizer-te, olho que me lê, que fiquei um pouco agoniado olhando para aquela mulher. O simples não que ela me deu me obrigou a encará-la por um bom trajeto da viagem do coletivo. Minto, encaixe o último fato que acabei de falar com a minha curiosidade, não parei de encará-la.

 Assim, surgiu-me algumas reflexões, algumas já esqueci (motivo pelo qual escrevo este texto antes de ir dormir, mesmo estando muito cansado, para não esquecer ainda mais), mas lembro-me que pensei no fato de a mulher ser gorda, digo, de uma forma educada, um pouco cheia. A partir disso fiquei pensando se ela comeria muito com o olho que tudo vê ou com o olho que espreita. Cheguei a conclusão que o olho que tudo vê pouco desconfia, enquanto o outro olho parecia gritar desconfiança. Assim, decerto ela comia muito com o olho atencioso.

 Olho que me lê, saibas que escolhi esse destinatário para isso que agora escrevo de forma aleatória, foi o que me veio a mente, nem pensava na mulher. Mas o meu subconsciente deve ter ligado as coisas de alguma forma e me fez escrever-te.

Desculpe-me, escrevi várias coisas sobre a mulher e os seus defeituosos olhos e cheguei apenas no fato de que ela era gorda com o olho grande (desculpe, de novo, este trocadilho, não foi intencional, maldito subconsciente, ele que nos dão essas ideias). Mas digo que também pensei em várias especialidades que essa mulher poderia ter. Por exemplo, se ela fitasse um mesmo objeto, ela tanto o veria holisticamente, ou pelo menos mais do que nós, como o veria de forma suspeita, qualidade digna, tudo vê e suspeita o que vê.

Ah, mas aqueles olhos, quando eles passavam por mim me causavam uma agonia, ela tanto me olhava quanto desconfiava. Ela olhava para frente e estava desconfiando de tudo com aquele olho apertado. Confesso que tive outros pensamentos que beiraram as besteiras filosóficas, mas não sei como descrevê-las e nem as quero, pelo cansaço; além das quais eu já me esqueci.

Olho, querido olho que me lê, fico pensando agora qual entre aqueles dois olhos eu carrego comigo. Será um meio termo entre os dois? Qual seria o melhor para mim? E tu, olho? Qual olho que tu és, que tudo observa, ou o que tudo suspeita? Queres mudar?

Eu quero, quero ser mais suspeito. Quero ter uma deficiência mas não ter um defeito. Só não quero ter esse déficit de visão que todos os outros do ônibus e a maioria do mundo parecem ter.

Os recursos naturais que uso para descrevê-la estão se acabando, chama o cupido

Os recursos naturais que uso para descrevê-la estão se acabando, chama o cupido

Quão incrível natureza
De Deus bela feitura
Agora esconde a tristeza
No meio de tanta fartura...
Pois o que era pra ser vivida
É tão somente observada
E consumida pela espera.

É um amor escrito
Por um consumo linear
Num sistema finito...
E se eu não te alcançar
Com tais recursos escassos?
Será que com esses passos
Poderia o amor aguardar?

Sistema que não é ciclo!
Com perguntas sem respostas...
Pois coloquei em todo ambiente
Com essas linhas tortas
Em ti meu pensamento
Que agora fica ao alento...
Mas o amor tudo suporta!

Versos forçados
Pois sou surdo e mudo
Não sei escrever
E agora neste mundo
Nesse cinema sem falas
Sempre desencontras
Aquela pele de veludo.

Voltando a escassez...
O que falta utilizar?
Já que humano é bicho burro
Pois sabendo que vai findar
Ama e não recicla
Quer e não re(utiliza)
Até um dia acabar...

Ah, nuvem querida,
Preciso me desculpar
Pois o terceiro 'R'
Não vou utilizar
Reduzir? Nem pensar!
Pois eu vou lhe esperar
Até a água findar
E até a última gota
Do oceano secar.

Me perdoem, ambientalistas,
Mas esses recursos serão
Em versos esgotados
Pois com tanta paixão
Continuarei a d(escrevê-la)
Que é presenteá-la
Até o mar virar sertão.


-Jonatas Carlos, 03.09.2016









Saudades

Saudades

Agora que você se foi
Digo que sinto saudade
Pois enquanto ao meu lado
Eu nada sentia
Só não sei se é tarde...
Fui no dicionário de inglês
E ele disse que só em português
Que eu sentiria essa falta
Quando você se fosse...

Mas se quiser voltar
Essa toda saudade
Vai estar aqui guardada
E sentirei sua falta
Mesmo aqui ao meu lado...
E te amarei
Como te amo
Quando estou com saudades.

-Jonatas Carlos, 17.09.2016

Golpe

O golpe dos miseráveis é a existência. O golpe dos 'sucedidos' é não os ver.

Soli Deo Gloria

Soli Deo Gloria

Quão vão é o entendimento
Daqueles que buscam no pensamento
E em toda sorte de matéria
Tudo que essa miséria
Guarda as escondidas...
Pois como serão sofridas
Toda a limitação
Que eles encontrarão
Quando por fim entenderem
Que por mais que buscarem
Sempre no fim enxergarão
O que eles mesmo não verão
É o início de tudo
É também parte do todo...
Mas eles dirão que é limite
Nada! Apenas transcendente...
E tudo que agora vemos
É uma parte de seus termos
De toda plenitude
Verdadeira infinitude
E que em mérito dizem: Meus
Digo glória somente a Deus.

-Jonatas Carlos

Confesso

Confesso

Meu robô organizou
Todo o ano planejou
Ah, meses perfeitos!
Pois ele metodizou
Não o que vem do peito
Mas o que vem da mente:
Aprendizado reluzente.

Confesso que falhei
Do caminho desviei
Mas quem dera
Se eu sempre errasse assim
Pois aqui eu encontrei
O que realmente vem de mim
E o que antes guardara
Agora eu gritei.

Ninguém ouviu!

Confesso que não sei
Pois isso não planejei
Mas agora quando acordo
Não sei se vivi ou sonhei
Pois é num cinema mudo
Que gritei pra todo mundo
Que eu me apaixonei.

Ninguém ouviu!

Mas foi detrás da produção
Sem nenhuma encenação
Que eu cego fiquei
Cego e mudo, pensei
Pois toda a luz que eu tinha
Era da lua que vinha
Mas um muro agora a detinha.

Confesso que não sei
O caminho que prossigo
Mas se é para ver a lua
Continuarei caindo
Até o anjo aparecer.

-

Como posso gritar em um cinema mudo?
Como podem me entender se não sei atuar?
Quantos fios existem para me derrubar mesmo sem nada eu ver?
Mas quero continuar até atingir o mar e o luar;
Quero ver a lua nascer
Pois é nesse encontro no horizonte
Que vejo matemática pura
É onde os infinitos se tocam
E a lua e o mar se abraçam.

-Jonatas Carlos, 20.08.2016

Discursos Fúnebres

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Deito-me sobre esta tarde ociosa para escrever Discursos Fúnebres

(i) Meu próprio discurso fúnebre

   Confesso que estou receoso por escrever o meu próprio discurso fúnebre e não tenho a mínima ideia das palavras que eu realmente aqui escreveria caso isso fosse de acordo com a realidade. Talvez seja. Mas trago aqui uma certeza: morto não fala, portanto, tenho aqui a oportunidade de dar voz a um defunto.

   A primeira coisa que eu gostaria de falar... é que eu realmente não tenho alguma primeira e nem última coisa a falar, mas irei jogando ao longo das próximas linhas as ideias mais aleatórias que eu possivelmente falaria em meu próprio funeral. Assim, mesmo estando eu em vida e não estando em um funeral, chego próximo aos discursos que são pronunciados nesses ambientes, pois os mesmos não são tão pensados, tendo em vista a carga emocional. Neste caso é a falta de carga emocional que também me dá a liberdade de escrever aleatoriamente.

  A primeira coisa é que eu não sei a idade em que eu morri, portanto escrevo aqui as palavras como se eu tivesse morrido agora, com os meus 20 anos. Dessa forma, ao contrário das somente boas palavras que as pessoas falariam para os meus parentes ou que estes falaram de mim, deixo-me para falar com a alma e falar a realidade, que nem sempre é boa.

  Assim, digo que foram 20 anos de uma infelicidade e de mal aproveitamento sem tamanho. Se meu corpo fosse uma máquina, decerto estaria longe do ideal de Carnot pois o meu rendimento estaria próximo do 0. Não digo que foi infeliz por falta de recursos ou opções para tal, isso é, se isso realmente é alcançável. Mas falo exatamente por esse mal aproveitamento como um todo.

 Acredito que minha infância foi uma das partes da minha vida em que foi mais 'normal', ia normalmente a escola, tinha alguns amigos, jogava futebol, gostava de ler, jogava vídeo-game e  aquilo que mais tarde acabou desenvolvendo a maior parte da minha personalidade, a solidão, que de princípio me dava uma criatividade de criar um mundo subversivo dentro da minha mente que me dava acesso a um mundo que só eu conheci com todas as formações políticas e empresariais. Digo isso pois, mesmo tendo alguns amigos, passei boa parte da infância só e tinha que criar universos.

  Nessa época eu tinha um empresa, um time de futebol, era jogador profissional e até mesmo anotava em um velho caderno os próximos confrontos e como estavam indo as minhas despesas.

  Não posso culpar ninguém, mas acredito que essa minha característica foi ainda mais desenvolvida pelo cuidado talvez excessivo dessa que deve estar chorando agora ao lado de meu caixão, minha mãe. É claro, com o objetivo de me proteger. Penso agora que essas palavras poderiam soar fortes aos seus ouvidos, mas deixo aqui que eu realmente entendo e não falo do desenvolvimento de minha personalidade introvertida ou da minha amizade com a solidão como um real problema. Talvez não seria eu um bom defunto que estaria escrevendo essas palavras agora se não fosse o seu cuidado. Cuidado esse que me comprometo aqui em cumprir no futuro caso não seja necessário ler tal discurso em tempos próximos, mas deixo aqui escrito pois essas palavras provavelmente me deitarão em rios de lágrimas em uma leitura pessoal futura.

  A nostalgia é uma coisa bela, mesmo as más memórias. Pois a nostalgia nos liga ao amor às coisas futuras, dando a essas agora um dever de serem aproveitadas. Ainda mais vindo em um discurso fúnebre, pois não há nada como o assunto morte que nos faça querer viver.

  Aqui dou um salto e coloco dentro de um único pacote o final da minha infância até o final da minha adolescência. Pois foi aqui que conheci aquilo que veio para unir o mundo e as pessoas como nunca antes se viu. Mas também aprendi na juventude que isso que conheci foi o que também mais separou este mesmo mundo e as pessoas, tirando um pouco de gente do pouco que já restava em alguns humanos. Talvez nesse tempo eu tenha sofrido a minha maior morte.

 Foi aí onde perdi horas, dias, semanas, meses, anos, vivendo uma vida que não existe. Rindo do que não deveria ser engraçado. Lotando minha cabeça de coisas inúteis que de nada servem. Pois é nesse local que há tudo menos o espelho da alma, pois lá só tem outros, outros e mais outros. É assim que se torna zumbi errante ainda em vida, é o torso virado para o quase nada aproveitável, e o que há de ser, seria bem mais conhecido fora deste mundo. 

  As drogas não são senão um meio do alívio da dor que o mundo nos causa. Algumas feridas são físicas, e para essas, drogas quando moderadas parecem ser benéficas. Outras feridas são internas, as drogas para essas parecem viciar mais e dificilmente são benéficas. Mas a maior doença é o vazio da alma que está sendo preenchida com uma viciante droga errada, que não é considerada droga, talvez seja o álcool, o cigarro, ou o outro, não sei. Dizem que o último não faz mal, mas digo, faz! Essa do outro não é altruísmo.

 Agora estou no começo da idade que se chama de jovem. É aqui onde as pressões sociais de uma sociedade normal começam a se aflorar, mas confesso que não estou preocupado com isso, e morreria feliz assim. Mas sei que só não estou preocupado pois não estou no ambiente que me colocaria na situação em que tal pressão fosse um problema. Não sei até que ponto o passado construiu esse futuro, mas vejo que foi quase tudo.

 Ah, é claro! Como sempre achamos que estamos certos no presente e vemos vários erros no passado, isso aqui também se apresenta. Melhor, acredito que já expus um pouco das minhas certezas de agora nos últimos parágrafos. Assim, vejo hoje como o meio termo sendo algo agradável, pois é nesse meio que nós temos uma calma para pensar e analisar os dois lados, pendendo para um dos, quando necessário e parecer certo. Foi assim que cheguei nessas últimas certezas aqui pronunciadas, definitivamente últimas pois cá agora devo estar morto. Mas no almoço de hoje pensei: será que o meio termo entre o azedo e o doce é o aguado? 

 Morto! Estou agora morto! Para que serviu todas essas coisas que busquei aprender e entender, colocar tudo na cabeça e... morto! Talvez aqui desse lado da vida, o de sua ausência, todas as coisas terrenas parecem não ter importância alguma. No meu caso, foi essa que acabei de falar. Perdi (?) a vida buscando entender as coisas? Imagine se nem isso eu tivesse feito!? Como eu disse, o passado escreveu o meu presente e foi esse passado que me trouxe aqui. E dada as circunstâncias de agora onde cá escrevo, digo que estou satisfeito, e mesmo que eu tenha perdido muita coisa, cozinhado os miolos sem necessidade, se cá estou, aqui deveria estar. Não posso supor a diferença que agora seria se o meu passado tivesse escrito outra coisa, pois se assim fosse, lá estaria. Mas é óbvio que ainda assim podemos aprender com o passado para melhor fazer o futuro, até que esse se torne um passado e nos leve para a mesma reflexão em outro futuro. Portanto, o que seria o humano se nós não pensássemos? Meio-termo. 

 Sobre o meu funeral eu tenho algumas considerações. (i). Espero que o meu corpo não inteiro esteja presente neste recinto, pois eu disse em vida que queria doar os meus órgãos e doar o que 'sobrar' para a pesquisa; (ii). Se (i) não foi cumprido, pare este funeral e doe agora para a pesquisa (já que os órgãos já não podem ser salvos); (iii) Sei que é complicado, mas não queria ter um funeral triste, portanto, gostaria que tocassem musicas interessantes, como músicas de Rodox, Rodolfo Abrantes, Crombie... minha memória de morto já não está muito boa, mas sintam-se a vontade para tocar todas as músicas que tem em meu notebook. Não ligo para o que os outros vão pensar, nunca mais os verei. 

  Acredito que eu tinha mais alguns comentários para fazer aqui para vocês, meus queridos vivos ouvintes, mas seria em um tom um tanto quanto instrutivo, e acredito que eu não queira isso em meu funeral. (Leia-se preguiça de escrever)

  Mas você que agora escutou esse meu discurso fúnebre pensa que nesse corpo tinha um ser bem estruturado e de cabeça que só olha para as estrelas, saibas, nesses meus vinte anos tinha somente um espinho que queria virar flor. E esse espinho chorava para tentar regar a si mesmo.

 Sim, não tive uma das melhores e mais aproveitadas vidas, sim, talvez tive uma vida de poucos amigos, mas um entre eles me fez encarar a morte com naturalidade e até certa ansiedade para vê-la. Este que não está sustentado por livros de filosofia, ciências, ou materialidade, mas as sustenta. É dele minha vida e esta morte que agora vocês veem é tão somente o início de uma verdadeira vida. Por que choraria ou teria medo disso? Por mais só que estive, sempre estive com alguém, por mais triste que estive, sempre estive feliz, por mais cruel e sofrida a morte que tive, morri em paz, pois a tão procurada felicidade não é encontrada em terra, mas do alto e se chama Deus.

(ii) Discurso fúnebre de Carolaine Marinho

  Confesso que não sei como iniciar este discurso, nem mesmo sei se deveria estar escrevendo tal coisa, mas a falta de uma realização de tal pedido que fiz deu-me aqui a ideia de escrever este. Pode parecer estranho que eu esteja aqui falando alguma coisa sobre ela, mas tive a oportunidade de conhecê-la durante alguns meses que antecederam tal tragédia.

 Ela foi a pessoa que me não escreveu o meu discurso fúnebre. E como eu disse, com a ideia de escrever este com ela ainda em vida, perguntei-lhe o que ela "queria ouvir" em seu funeral...

 Acredito que ela tenha me dito três coisas, mas enquanto escrevo estas linhas só lembro de um: Penso que ela queria que eu vos soubesse fazer a ideia que ela tinha de morte. Dessa forma, deixo aqui um entre os pensamentos que ela desenhava: A morte para ela era algo mais confortável do que pode parecer para muito de nós, pois ela tinha a visão de que a morte era tão somente o começo de uma vida eterna, que acredito que seja no céu (não falaria isso), a morte para ela era uma simples passagem desse mundo material para um mundo que ainda desconheço mas que deve ser incrível. Ela não temia a morte, mas a encarava com um passo natural da vida, o fim da vida, mas não o seu término. Sei que esse momento onde estamos prestes a ter que dar um adeus ao seu corpo material é algo difícil, mas acredito que seja menos agoniante após sabermos essa ideia dela. Ou não, nesse momento não tem palavras que possam confortar nossos corações.

 Penso que ela também me disse que não queria um velório muito triste, mas disse que isso era impossível com palavras parecidas com as últimas que terminei o último parágrafo. Mas este último não sei se realmente foi um pedido ou algo que meu cérebro inventou enquanto eu tentava lembrar dos outros. Minto, perguntei para ela no passado de agora ainda em vida e ela disse que era para eu falar apenas sobre a morte... Disse.

 Qualquer confissão que eu aqui fizesse sobre ela seria estranho, pois como já disse, apesar de termos gastado alguns minutos em prosa, vocês não sabiam sobre isso. Assim, deixo aqui as palavras clichês, mas nesse caso não menos verdadeiras. Ela era uma pessoa incrível, eu sigo uma linha de pensamento em que sei que todas as pessoas são diferentes, cada cabeça é um mundo, mas a maioria desses mundos são como estrelas vistas daqui, pois vistas de longe são bem parecidas. Não ela. Ela tinha um jardim florido em si, não pintava com as mãos, mas desenhava com seu olhar distraído. Estava sempre em terra, mas voava como um colorido balão através do seu pensamento. Se os antigos gregos, que tinham a mania de transformar em estrelas em constelações os falecidos ou os mitos, estivessem aqui, eles teriam um sério problema para decifrar, pois essa menina esfinge era em si mesmo um universo.

 Como o último pedido dela: Aproveitem o cafezinho e peguem os desenhos que o passado dela deixou, aqueles bem rabiscados, chamados de malcriados

Antolho

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Antolho
 Hoje conto a ti, meu querido diário, uma história inusitada que aconteceu com uma amiga minha em sua ida ao dentista. Sei de tal relato pois tanto a acompanhei quanto tive que ouvir e ver o resultado dessa misteriosa periódica higienização bucal que ela fazia quando ia ao dentista.


 Digo misteriosa pois, eu, que passei a minha vida indo aos dentistas, não vi nada parecido com tal cena, melhor, digo que não vi tal coisa nem mesmo nos mais estranhos sonhos que já tive. Findando com essa breve angustia de espera que te fiz esperar, termino esse mistério iniciando este:


 Parecia estar tudo indo ao normal, minha amiga de pele morena, com um bordado florido, vestido curto, deitou-se sobre a azul e limpa cadeira de dentista. Apresentava um contraste claro, pois além de suas formas que já citei, seu cabelo abria-se sobre o encosto da cadeira pois estavam sendo naturalmente apertados contra a cadeira pois ela estava deitada, dando uma impressão dicotômica, onde ela não deveria estar lá. De um lado, o medo que ela carregava consigo do dentista, do outro, todo aquele ambiente branco com luzes fortes que era cortado tão somente pelo azul da cadeira e o prata dos materiais utilizados pelo dentista.


 Deixando essas análises minuciosas e um tanto quanto inúteis de lado, digo que o lado macabro começa agora: Entraram empurrando aquelas portas que se abrem se dividindo ao meio de forma rápida e inusitada, quase desesperada, alguns odontologistas (talvez não fossem, mas sei que eram da área de saúde) arrastando dois daqueles suportes de soro, sendo que no lugar do líquido transparente do soro estava um material branco que parecia ser um pouco viscoso. Na ponta, estavam duas enormes e grossas agulhas.


  Nesse momento eu, igualmente como minha amiga, fiquei sem reação. Porém, é válido salientar que eu notei que minha amiga não estava com medo, a falta de reação dela era uma espécie de aceitação ou de normalidade frente àquele inusitado ato. Este, que por sua vez, pareceu até de médicos entrando desesperados pelas portas dos hospitais empurrando numa maca alguém em estado de emergência. O contraste entre minha amiga e o ambiente continuava o mesmo. Tudo que eu fazia era olhar repetidamente para ela e para os dentistas que entraram, quando eles falaram:


— Então, vamos colocar aqui em você esses líquidos e eles farão em você uma lavagem cerebral. Mas calma, você ainda lembrará de muita coisa, ele só modificara alguns detalhes do seu cérebro. Ainda mais, essa lavagem fará com que você tenha acesso a todo momento que você quiser a materiais engraçados e coisas que possam lhe entreter, sendo lhe apresentado tudo que será por nós embutido através desse rápido procedimento.


 Nisso, eles já estavam colocando as agulhas, uma em cada braço, e fazendo com que o líquido fosse transferido para o corpo de minha amiga. A cena era trágica, eu não conseguia fazer nada por algum medo ou receio e ela estava aceitando todas aquelas coisas, pior, disse ela:

— Se isso me fará ver coisas boas e tirar essas malditas ideias de minha mente, ou pelo menos dar uma pausa com elas, tudo bem.

  Mal sabia ela que a pausa de uma ideia feita por um controle (isso que era o líquido) era, mesmo que momentânea, eternamente modificadora...

  As drogas e a lavagem cerebral que eles estavam realizando nela tinha também como objetivo conseguir filtrar todas as novas informações que ela receberia, sendo mostrada para ela apenas aquilo que ela gostaria de acordo com aquilo que o próprio remédio modificou nela, ou em alguns antigos gostos que ela já tinha e não foram excluídos no processo. Era um avanço na medicina, um remédio que te faz ser mostrado o que você quer ver.

  Esperamos o tempo de todo o procedimento. Era angustiante ver todo aquele líquido ir parar naquele ser contrastante, ainda mais seguido pelas repetidas palavras e frases que os dentistas ficavam falando para ela, com o objetivo de ir colocando essas novas ideias que seriam definitivamente fixas. Pior, seria uma ideia que seria aceita e defendida por ela, uma ideia que bloquearia as outras e ainda aceitada, uma ideia-muro, que bloquearia todo um novo horizonte que nasce juntamente com o sol, e ainda aceita. Mas essa ideia parecia boa por vir junto com a ilusão e conformismo com o quase sempre bom e o controlado mal que passaria agora pela sua mente, tudo controlado.

  Quando o processo realmente acabou, finalmente ganhei coragem e fui alertá-la de todos esses malefícios que essa lavagem causaria nela, mas parecia tarde demais, ela sabia que estaria sendo limitada para ver as coisas que a lavagem e as drogas lhe passariam, e estava feliz com isso. Pior, carregava ainda a falsa ideia de liberdade, mesmo estando nesse caminho único que não conseguiria sair...

  Essa droga chamada ilusão parece tão boa por coloca um antolho focada na estrada das ideias boas que estou até agora pensando em cair nesse conformismo.

Somavav

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 Somavav

  Muitas das histórias contadas pela mitologia apresentam monstros com várias cabeças. Contudo, apresento aqui uma história contrária a essa, tanto em ideia quanto em incorporação, uma vez que tanto vi tal ser, como esse tinha nada menos do que 6 corpos mas apenas uma cabeça. Veja, caro blog, parecia-me já difícil várias cabeças independentes tomar decisões por si, tendo apenas um corpo, mas quando vi tal ser de uma só cabeça e com vários corpos, tudo ficou ainda mais complicado.

  Digo isso pois o primeiro sentimento que tive quando vi tal animal não foi medo ou qualquer outro semelhante, porquanto o que eu realmente senti foi pena. Esse animal que chamei de Somavav cambaleava como um bêbado em seus últimos passos em pé.

 Mas antes de partir para seu modo de agir, permita-me descrever essa horrenda criatura em fisionomia: O rosto parecia de um simples cavalo, sendo este com uma expressão de angústia (imagino pelo desespero de estar preso a tais corpos), já os corpos se organizavam entre os 180º da parte detrás da cabeça, todos eles pareciam serem partes de quadrúpedes terrestres, sendo que completamente cobertos por uma espécia de escamas córneas, como a de um jacaré, sendo com maior número de protuberâncias, carregando consigo uma repugnância natural.

  Contudo, tenho uma ressalva a fazer: A primeira vez que vi o Somavav foi em alta madrugada, não recordo cá a hora, mas sei que eu já não estava com todas as minhas ligações completas na mente. Assim, mesmo tendo continuamente vendo tal animal em outras madrugadas e em outras raras ocasiões matinais, não posso afirmar que ele não seja um sonho, uma alucinação ou o simples fruto de um início de loucura.

 Dessa forma, parecia muito propício a hora para ver tal criatura cambaleando. Era trágico como aquele ser não tinha direção alguma, cada parte de si, digo, cada um de seus corpos queria ir para um lugar diferente, colocando o animal (a única cabeça) em total confusão. Vale lembrar ainda que como todo corpo, eles tinha diferentes necessidades em diferentes momentos, causando ainda mais problemas entre eles. Pense só você ter 6 diferentes seres mandando diferentes informações para dentro de sua cabeça. Nós que temos só um corpo ficamos muitas vezes indecisos, preocupados e ansiosos por não conseguir escolher coisas simples do dia a dia... E quando as coisas não saem como queremos? O mundo muitas vezes parece desabar com qualquer desavença ao nosso querer.

  Confesso, assim, que nem consigo imaginar. Era informação demais sendo enviada para aquele pobre ser que estava perdido entre si e dentro de si. Ele deveria ser privado de quaisquer sentimentos, uma vez que cada partezinha do seu corpo queria algo diferente. Poderia ele amar? Odiar outrem? Ser útil em alguma coisa?

  Coitado! Sabe o que é pior? Cheguei tarde demais. Lembra-se do que eu disse no começo? Da primeira vez que o vi ele já estava angustiado, o que será que ele já passou até chegar nesse ponto? Será que se eu o tivesse encontrado antes as coisas teriam sido diferentes? Percebe como este encontro colocou-me dentro de várias interrogações, querido blog?

 Sim... cheguei tarde demais, a sua última aparição foi num sábado dia 02.07.2016, foi nesse dia que vi aquela cabeça que estava já muito perturbada com todos aqueles corpos se jogar de perto do ponto mais oriental das Américas, a erodida falésia do Cabo branco. O lugar mais próximo do velho mundo e do mar. Tudo que restou agora foi ao Farol os seus restos iluminar.

Os sonhos de todo bom homem

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Os sonhos de todo bom homem

  Tive ontem a oportunidade de ter uma bela prosa com um antigo amigo meu, ele, reflexo da sociedade, muito já viveu e sempre me tem muito a falar. Nesse último encontro não foi diferente, ele não parou a boca quieta um só minuto. Toda história que ele contava só era interrompida pela próxima. Atributo que só faz de alguém bom quando é acompanhada de ótimas narrativas, que é o caso dele. Assim, deixo aqui escrito a história que mais chamou a minha atenção.

  Antes, deixe-me situá-lo, caro leitor. O meu amigo é, atualmente, um empregado da construção civil e tem por trabalho viajar regradamente pelo mundo em busca de atualidades para serem aplicadas às obras da empresa em que ele trabalha em João Pessoa. No entanto, mesmo tendo uma vida de viagens, o seu maior sonho era viajar livremente durante as férias, pois ele ganhava pouco e tudo que ele ganhava, gastava para viver. O seu segundo maior sonho é, assim como o de todos grandes e esperançosos miseráveis, a aposentadoria. Relato aqui estas informações pois acredito que sejam úteis para o entendimento da história.

  Assim, após um esforço imenso para guardar o dinheiro das sonhadas férias, relatou ele que...

 estando, pois, em sua viagem de férias num cruzeiro que buscava percorrer o litoral brasileiro com paradas e visitas aos grandes pontos turísticos das cidades portuárias, o grande navio começou a passar por um mar agitado e uma tremenda tempestade. Todos do navio, medrosos, seguiram as ordens de irem para os seus quartos e esperarem a tempestade passar. Assim feito, ele, sozinho no grande e acolchoado quarto, começou a pensar coisas aleatórias. E pela maior aleatoriedade que o acaso poderia lhe dar, aquela situação lhe fez pensar nos antigos escravos dentro dos navios negreiros.

   Dessa forma, comparando-se ele com um negro escravo, tentou colocar uma etiqueta em si mesmo. Qual seria o seu preço? O preço do homem, é, decerto, calculado por suas virtudes e pelo que ele sabe fazer para os outros. Afinal, o inútil é aquele que tem valor em si mesmo. Dessa forma, ele começou a ver que não tinha bom porte físico para trabalhar como escravo e deveria ser pouco valioso... 

   Contudo, encucado com a ideia, ainda tentou colocar um preço em si mesmo com base em suas qualidades intelectuais. Viu ele: bem, falo português e inglês, tenho experiência com minha empresa, sou bom em cálculo, sou analítico e tentou elencar o máximo de virtudes que conseguiu. Não as exponho aqui pelo fato de eu as ter esquecido. No entanto, percebeu ele que seria um grande homem, assim, deveria ser precioso. Ele, dessa forma, ficou feliz por saber que seria um escravo valioso e poderia até ter algumas regalias, além de abrigo e comida. O preço que ele colocou? Bem, ele não me disse, mas te digo aqui, bom leitor. Seu preço não (é) nada valioso, pois esqueceu-se ele que já é vendido por 3 salários mínimos e 8 horas de trabalho diário durante 35 anos. 

  Mas se você lembra, caro leitor, o segundo maior sonho dele era a aposentadoria. Dizia ele que quando se aposentasse iria extorquir do Estado e da previdência social tudo que lhe era por direito, assim, ele enfim aproveitaria a vida. Mas, enquanto ele fazia as contas para saber quanto tempo faltava para a sua aposentadoria, devido ao seu já cansaço mental por conta de tanto trabalho e o aumento do balanço do navio, ele nem conseguiu finalizar. Após uma pausa, ele me disse que faltavam apenas 14 anos de trabalho. Eu, em tom de brincadeira de bons amigos, disse que faltavam 14 anos de trabalho, outra cirurgia de coração e mais outras 2 da velha coluna do coitado que vivia sentado. Ele entendeu e rimos. Disse eu também que existia uma antiga lei que já garantia os seus direitos para uma boa aposentadoria, a lei Sararaiva-Cotegipe, ou dos sexagenários, como é mais conhecida. Assim, ele abriu um belo sorriso de felicidade com a esperança do descanso, vida sem trabalho e o gostinho de vitória de, por fim, tirar dinheiro do governo.

 A tempestade passou, o navio atracou na próxima cidade que estava por destino, e o meu  amigo levou consigo suas ideias e o belo sorriso pela expectativa de estar realizando o seu sonho de vida.


-Jonatas Carlos

Aquele meu amigo

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Aquele meu amigo

  Entre uma das maiores características desse que vos fala, está o pouco falar. Por isso, alguns dizem que sou antissocial e orgulhoso. Bem, tratando o lado da ética onde eu sou definido pelo meu resultado, isso pode ser verdade. Contudo, eu que devo me conhecer um pouco mais que os outros, sei que tudo é uma questão introvertimento e timidez, mas acredito que sou um bom observador. Faço essa introdução não para buscar me apresentar ou querer sua amizade, mas inicio assim para falar que tenho poucos amigos, sendo um deles o assunto dessa minha postagem.

  Nesse tempo especial onde as nossas amizades e relacionamentos são líquidas e superficiais, busquei analisar o que me prendia a esse meu amigo que dá medo em alguns, ódio em outros, mas que é um grande amigo meu. Assim, como uma pessoa sistemática que sou, busquei analisar os meios que me fazem estar intimamente ligado com esse meu companheiro.

  Mas antes de começar, você já parou para pensar que coisa estranha é essa, pensar? Engraçado, nós somos seres pensantes, naturalmente nós somos superiores em relação a todos os animais, essa característica é uma. Digo isso pois em alguns momentos me pego pensando: "Imagine se eu fosse um pássaro. Bem, eu voaria, seguiria meus instintos e morreria." A grande verdade é que algumas humanos pensam isso da própria espécie, mas só o fato deles pensarem nisso já é uma grande diferenciação. Assim, sou diferente de todos os outros animais e diferente de todos os animais da minha espécie pela simples capacidade de pensar. Dessa forma, posso, de alguma forma, ativar milhares de sinapses nervosas, uma série de reações química, pensar e chamar alguém de... amigo. Isso é tão simples e ao mesmo tempo tão incrível! Essa característica decerto nos diferencia e não podemos nos comparar com nada, nesse aspecto.

  Diante disso, uma outra questão que me vem a cabeça é: mas que bulufas me fizeram chegar assim? Digo, em algum momento do nosso universo e do nosso tempo, houve um começo. O absoluto nada e o zero segundos do cronômetro do nosso finito mundo. E agora, nós, criaturas inúteis, pequenas, preguiçosas e pensantes, estamos aqui agora tentando entender como chegar aqui. Ei! Calma. Percebeu como demos um salto imenso? Nós pulamos incríveis ~13,5 bilhões de anos do nada até eu, você e meu amigo. Consegue imaginar como isso foi incrível? Bem, tínhamos uma singularidade, um ponto adimensional com uma super densidade que explodiu, organizou-se e dentre milhares e milhões de variações, mutações e especiações nós estamos aqui, tudo isso a ciência vem cada vez mais explicando em detalhes como tudo aconteceu. É, caro amigo, agora estamos aqui. Somos não só seres que pensam como nossa trajetória já é muito longa, 13 bilhões de anos!

  Se você que me lê e não é meu amigo já pode achar que estou me precipitando ao falar isso, mas lá vem mais um... calma! Digo isso pois algumas pessoas dizem que o universo só existe pelo fato de estarmos aqui. Simples, por sermos criaturas racionais buscamos e sermos seres vivos, tentamos entender o que nos cerca e acabamos por nos deparar com o caminho que nos possibilitou a vida. Mais uma vez eu não sei como reagir quando alguém fala disso. Melhor, sei! E sei que é muito fácil falar isso depois de ter percorrido o caminho e chegado aonde está, na vida. Foram 13 bilhões de anos, uma série de especiações e um caminho probabilístico incrível. E esse último, como bom apreciador da matemática e das ciências naturais, é o que me chama incrível atenção. Por exemplo, lembra do que eu falei no parágrafo passado? Saímos do nada e chegamos aqui, esse caminho que em simples palavras é apenas separado por uma simples letra, andam juntos na realidade por uma questão infinitesimalmente pequena, com o significado da palavra. Como exemplo, já se foi calculado a partir das proteínas que necessitamos, que uma simples vida surgir por acaso é da ordem de 10^40.000 para 1. Essa é apenas uma das infinitesimais probabilidades que são calculadas para a nossa existência, acredita? Isso fica mais bizarro quando sabemos que os filos mais conhecidos que temos hoje surgiram apenas há 530 milhões de anos. Bem, caro amigo, isso me fez pensar em ti, pois diante de tantas possibilidades de não existirmos, existimos, pensamos, sabemos que existimos e nos encontramos.

 Ficaria ainda mais bizarro se uma das principais leis da ciência afirmassem que essa organização é um pouco mais complicada do que parece. Isso porque uma das aplicações da 2ª lei da termodinâmica que é expressa em "A quantidade de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente tende a incrementar-se com o tempo, até alcançar um valor máximo" é que tudo no universo tende ao caos e à desorganização. Assim, fica ainda mais inacreditável, caro amigo, que o acaso reservou esse universo, esse tempo, essa probabilidade e essa tendência à desorganização apenas para nós. Tudo foi organizado e milimetricamente encaixado para que essa grande máquina funcionasse e eu te encontrasse.

 Mas que ciência! Quer saber agora? A própria ciência carrega consigo uma máxima de Lavoisier e afirma que na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Bem, temos um pequeno problema. Se nós formos puxando, esticando e investigando as coisas que nos cercam, ela chegará em um início. Tudo. Veja as línguas, veja a matéria, veja o tempo, veja os costumes, veja um princípio moral, tudo. A própria ciência afirmar existir, no mínimo, um ponto de singularidade, de onde veio isso? Bem, a ciência ainda não sabe explicar, mas sabemos que todas as coisas tem um começo, sim, tudo foi criado, não foi perdido e ainda se transforma. Assim, amigo, diante dessa criação eu me encontro aqui contigo...

  E que criação! Já te falei sobre a complexidade que é o resultado desse mundo em que vivemos, mesmo sendo ele uma parte extremamente pequeninha no universo, mas estamos aqui. Mas no meio dessa complexidade, você já parou para ver a beleza que ela nos traz? Olhe bem, mesmo ao meio de tanta desgraça que nós fazemos, o mundo ainda é belo, o nascer do sol é belo, as ondas do mar são belas, até o capim pode ser belo. São detalhes, muitos detalhes, e a união desses detalhes nos dá uma imensidão de beleza. Amigo, se você no meio dessa vida corrida ainda não parou para olhar para a beleza do mundo, digo, olhe! Esse deve ser o meu maior presente para você, ou não, pois acredito que em algum momento você já parou para olhar. A minha dica é olhar os céus e as estrelas, a sensação de olhar para algo imenso, longínquo, que nem está mais aí, que é apenas a sua luz que veio viajando por milhares de quilômetros e fazer esse espetáculo me fascina. Todo esse nada virou um algo, entre uma complexidade, organizou-se e cá estou te escrevendo, caro amigo, nascer é vencer o maior desafio da vida.

  Neste curto espaço de uma linha entre o ponto final e o "n" que iniciou esta frase me veio um período de pensamento que gostaria de compartilhar com você. Estava aqui pensando comigo que talvez você não fosse um amigo de verdade, digo, você é muito mandão. Quando eu estava aqui escrevendo suas boas qualidades vi que você estava sempre a me ensinar algo, dizendo que isso é errado, aquilo é certo e etc. De princípio, fiquei meio receoso contigo e mais, até estava ficando com raiva de você. O que mudou? Bem, o que mudou é que eu lembrei que nós, humanos, precisamos sempre de uma primeira referência. Não podemos dizer se algo está subindo ou descendo, acelerando ou desacelerando, fazendo o bem ou o mal sem uma referência, a física é que melhor consegue explicar isso. Então, percebi que isso que fiz, de princípio, parecia mais pirraça do que qualquer coisa, afinal, é óbvio que eu necessitava de uma base moral objetiva, pois senão, esse mundo que já tende à desordem já teria explodido. Então ao invés de ficar com raiva de ti, o que tenho a dizer é muito obrigado.

  Sabe, se tudo fosse perfeito essas diferenciações de base moral provavelmente não existiriam, pois nem seriam necessária. Contudo, caro colega, nós mesmo vimos e ainda vemos como fazemos o mal e como a própria ciência aponta para que o universo tende ao mal. Assim, fica óbvio que pela mesma ideia de puxar e tentar entender o assunto desde o começo, faz-se necessário esse ponto fixo, seja lá qual for, tem que existir apenas um. Nesse meu caso, esse meu ponto fixo é você, seu ditador rs.

 Mas ainda temos um grande problema para enfrentar. Estávamos ainda agora falando sobre a criação das coisas, o ponto zero e estávamos nestes últimos parágrafos falando sobre uma base de certo ou errado para as coisas. Isso é intuitivo, se algo começou, ela tem que ter um começo, se algo é bom ou ruim, temos que ter a base para isso. Mais uma vez digo... calma! Como assim um começo material para o tempo e espaço, digo, como algo pode ter sido criado no espaço e no tempo zero? Ser criado é ser feitura de algo, mas... que algo? Se o tempo é zero, decerto para que algo tenha surgido do zero, esse algo tem que estar fora do espaço-tempo. Nossa! Obrigado, amigo.

 Bem, no início de tudo que conhecemos (o espaço tridimensional e tempo), você veio de "fora" que nós simplesmente não conhecemos, por viver nesse espaço já dito, e simplesmente nos criou. Mas calma, tinha um nada! Você foi lá como criatura perfeita e criou esse universo incrível, complexo e belo. Mais do que isso, você nos criou e nessa complexidade e especiações nos deu a oportunidade de pensar, olhar e entender essa beleza, sou racional e só assim consigo pensar nisso e em ti. Você que desde o começo já estava lá, como o ser perfeito a ser imitado, era a nossa imagem de bom a ser seguida, mas falhamos. Mesmo assim, tu ainda estás aí nos mostramos o que devemos fazer. Diante disso, o mínimo que posso fazer é ser seu. Obrigado, Deus.

-Jonatas Carlos

 O mundo parece reconhecer que houve um começo, que para haver esse começo, algo de fora deve ter criado. Que temos um conceito objetivo de certo e errado, assim, parece que algo deve ser uma base objetiva para termos tais conceitos. Que algo nos fez racional e só assim conseguimos pensar. Que através disso, enxergamos que algo susteve o universo que tende ao caos. Que esse algo deve ter, por probabilidade, especiado e controlado as forças naturais para que o universo e toda a sua complexidade deve ter existido. Mais do que isso, vemos que para tudo que destrinchamos, encontramos um algo como sua base. Bem, não sei você, mas esse algo eu chamo de Deus.


Sob um cachorro

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 Quanto tempo, queridas letras. Volto a vossa presença para relatar mais uma história. Dessa vez talvez com alguns problemas em relatar os detalhes ou a completa verossimilidade, uma vez que esse evento ocorreu há duas semanas. Como de costume, te informo que o local foi o Detran, onde eu estava para resolver a documentação de um carro.
 De princípio, chego e encaro uma das piores coisas que o mundo naturalmente criou: fila. Fico impressionado com a capacidade que as formigas tem para seguir exatamente o mesmo caminho, elas simplesmente vão fazer o seu dever: o trabalho dignifica a formiga. Eu, é claro, quando vejo essa cena, molho o meu dedo e passo pelo caminho. Destruo, assim, a comunicação de feromônio e as formigas já não sabem para aonde ir. "Revolução operária!" Grito eu. Pois bem, deixando o meu devaneio de lado, tive a tristeza de encarar essa disfunção de mundo e fui.
  Mas para a minha surpresa, o fim dessa fila me revelou dois fatos inusitados. Primeiro que uma das três pessoas que estavam atendendo era um deficiente motor, mas esse ser era mais eficiente do que os outros dois seres normais juntos. E o outro fato foi que essa fila me levava à uma senha que me colocava em uma gigantesca fila de espera. Esses dois eventos podem nos ensinar muita coisa, mas deixo a explicação para o trabalho de sua mente.
 Mas a história que eu vim hoje te escrever começa realmente agora. Essa longa fila de espera era um pouco menos insuportável, pois nós esperávamos sentados. Daí, percebi que tinha um cachorro que ficava passeando e tentando buscar uma prosa com as pessoas que estavam a esperar, mas ninguém queria conversar com ele. Nesse ponto, imaginei que talvez o cachorro estivesse pedindo esmola e não buscando uma conversa. Contudo, enquanto eu pensava a ideia que acabei de relatar, não notei que o cachorro se aproximava de mim. O melhor momento da incerteza é quando ela mesmo se apresenta para nós.
 Um cachorro? Capacidade limitada de criatividade. Loucura. Tentativa de abstração para esconder a péssima história. Acredito que um desses seja um dos seus pensamentos, talvez todos. Mas deixo aqui registrado que eu realmente tive uma breve prosa com tal animal. E digo mais: escutei mais do que falei e aprendi mais do que ensinei. Talvez realmente tenha sido um devaneio.
  Pois bem, gostaria de falar em princípio sobre o porquê de eu ter pensado que ele era um mendigo. Pensei isso por duas coisas: Primeiro que o cachorro tinha uma aparência repugnante. Era um ser ignóbil, com certas feridas, parecia ter alguma doença. Além disso, ele era um vira-lata, sua pelagem era de um louro com branco, mas toda suja. Ele também apresentava ser fraco e estar um pouco desnutrido. Assim, me parecia óbvio ser ele um mero vagabundo que não trabalhava e buscava a vida fácil nas esmolas.
 Pulo de parágrafo pois colocar as duas explicações em uma só deixaria o parágrafo muito grande, mas não sei se é correto. Não me importo, te expliquei que continuo o propósito, então você entenderá. O segundo era o fato de que ninguém dava atenção para ele. Todos com quem ele tetou conversar preferiram continuar com os seus torsos curvado em direção a caixinha de pixels. Dessa forma, parecia óbvio que qualquer que fosse o entretenimento que houvesse naquele lugar fosse mais interessante do que dar atenção ao cachorro, mesmo que fosse um cachorro falante. Afinal, mendigo é mendigo.
 Assim, você deve imaginar que a minha primeira recepção para o quadrúpede não foi a das melhores: Ele chegou ao meu lado e eu fingi estar olhando para o telão que estavam chamando as senhas.

— Fico pensando o que pode ter de tão interessantes nessas telas... Não sei se sou burro ou inteligente por não entender.


Nesse momento vi que ele não era um mendigo e pensei comigo: decerto é burro. Mas respondi:
— Cada um com suas sapiências. Você, por exemplo, é um cão falante.



— Mas não é, jovem? Veja bem, eles vivem fora da vivência. A realidade deles é um mundo irreal, virtual.
— Não é bem assim, você por não entender é que não sabe o quanto de informação é que os celulares nos trazem...
— Celulares, computadores, chips, seja o que for. Sei que em meus 18 anciões anos eu nunca vi a humanidade tão perdida. Tudo que ela criou para ganhar tempo, compartilhar conhecimento, viajar sem sair do lugar e várias outras vantagens é exatamente aquilo que faz o contrário. Vocês agora fazem parte dos pixels, não conseguem mais viverem sem eles. Ontem mesmo, estava eu na praça e percebi que só eu estava olhando para o lindo pôr do sol, com seus belos tons de laranja, esplendido. Vocês? Estavam preocupados com os seus deveres e aparelhos. Mas sabe o que é pior? É que esses são os meus que idolatram uma bela foto virtual da natureza.
— Calma, calma, não é bem assim. Veja. Eu, por exemplo, utilizo as tecnologias de forma cautelosa, busco informações, deixo as coisas supérf... me interrompe o animal.
— Não sei se vocês mentem para si ou se mentem apenas para mim. Vocês perdem tempo tirando uma foto que nuca mais irá ver ou tira apenas para mostrar aos outros, ao invés de guardar as imagens no HD da mente. Vocês passam horas vendo a vida de outros ao invés de fazer a própria vida e ainda falam "cuida da sua vida", que hipocrisia. Vocês são psicologicamente afetados por passarem o dia nesse mundo falso que é cheio de algoritmos para mostrar apenas o belo que lhes interessa, sabe o que acontece? Vocês subconscientemente buscam e tentam demonstrar pertencer à esse mundo ideal. Tudo que vocês criaram para poupar tempo, buscar informações e acelerar processos estão lhes deixando sem tempo, mais burros, preguiçosos e inaptos.


  Eu não sabia o que dizer. Na verdade eu sabia, mas o que eu dizer era continuar relutando com a ideia dele e tentando me defender. Por que não disse? Bem, no fundo eu sabia que tudo que ele disse deveria ser verdade e guardei essas palavras para pensar quando chegar em casa.

— Nesse ritmo vocês serão a próxima espécie a ganhar o Darwin Awards e entrar em extinção. Vocês caminham para a própria seleção natural. Você já pensou em colocar um ponto de interrogação em suas certezas?

  A grande questão é que eu guardei essas ideias para refletir em meu lar, mas eu já não sabia pensar fora das telas. Agora estou aqui escrevendo o que não sei fazer, digitando sem conseguir criar. Sou limitado pelas palavras que penso, e mais limitado pelas que eu não penso. Escrevo sobre o meu pecado nele mesmo. Não escrevo, digito a minha própria destruição. Mas enquanto digito sobre a minha falta de criatividade, sobre a minha finitude, sobre as minhas limitações, sobre como as telas acabam conosco, continuo sobre. Enquanto eu estiver sobre, estarei aqui eternizando o próprio paradoxo do pensamento mal feito.

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